terça-feira, 28 de abril de 2015

Pedagogia divina

É sempre assim. Quando as águas dos redemoinhos da vida chegam ao pescoço do homem, e quase afogado, ele levanta os braços pedindo socorro. O Senhor também estende seus braços, que se transformam em regaço e refúgio para acolher, consolar e animar o náufrago. É nesse momento que devemos levantar a voz em gratidão para cantar a alegria de termos sidos salvos.
            A maior parte das transformações que uma pessoa pode experimentar na vida é através de um desastre pessoal, como no caso de quem está afogando no mar de suas ilusões e fantasias. Quando o homem avança precedido pelo prestigio, e seguido pelo renome como uma sombra, pisando em terra sua, é difícil que se acabe sentindo um pequeno deus. É o que Jesus dizia: “um grande proprietário poderia entrar no reino dos céus, mas, como é difícil”(Mateus 19,24)
.           Para entrar no reino o homem tem que começar destruindo aos poços a própria estatua, tem que renunciar os próprios delírios e fantasias, e tem que arrancar as máscaras, aceitando com naturalidade a própria contingência e precariedade, apresentando-se diante de Deus como uma criança, como um pobre e indigente.
            Ao provar o contraste entre a indigência humana, de um lado, e o amor gratuito que Deus nos oferece nesses momentos de desvarios, do outro lado brota, impetuoso e festivo, no coração do homem, este sentimento, mistura de fé, e segurança, que podemos chamar de confiança. O pobre em vez de deixar deprimir pelo próprio nada, com suas sequelas de amarguras, sente por si mesmo uma secreta alegria, porque compreende que esse seu nada invoca, convoca e reclama, de certo modo, até “merece” as riquezas da misericórdia de Deus Pai. Lindo, não?

     
            Daí esse grito de confiança que até parece um grito de onipotência: “O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?”. (Salmo 27). Percebemos que ouve um salto acrobático do nada para o tudo, impulsionado por um coração cheio de exultação e desafio. Parece um prelúdio das bem-aventuranças: os últimos e os carentes de tudo, e justamente por causa dessa carência, receberão, por lei de compensação e de graça, a plenitude da bondade infinita de Deus.
                             (Do livro: “Salmos para a vida”, de Frei Inácio).

  

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